QUEM SOU EU

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Aluna da Esc. Est. Francisca Mendes - Eirunepé-AM (ASSÍBELY LIMA COSTA) é classificada na etapa estadual das Olimpíadas de Língua Portuguesa na categoria Memórias Literárias e participará na cidade de Belo Horizonte a nível nacional na grande final

                    TEXTO CLASSIFICADO NA ETAPA ESTADUAL
                                               
AUTORA: ASSÍBELY LIMA COSTA


SAUDADE QUE DÓI         

Nasci e cresci em uma comunidade situada às margens do igarapé Itucumã, no Amazonas. Meu nome é Antonio, mas todos me chamam Sarapó. Minha família era pobre, muito pobre, porém feliz. Mesmo enfrentando tamanha pobreza material, a paz e a harmonia reinavam entre nós.
          Com apenas, oito anos, ajudava meu pai na extração do leite, para a fabricação da boracha, e com isso garantíamos o sustento da família. Saíamos de madrugada, auxiliados pela luz da poronga, e voltávamos às nove horas. Após comermos alguma coisa, retornávamos para recolher o leite. À tardinha, quase noite, chegávamos em casa e esperávamos ansiosos, que mamãe servisse o jantar. Dormíamos cedo, pois precisávamos acordar com as galinhas, isto é, antes do amanhecer.
          Quando eu tinha 14 anos, nos mudamos para cidade São Felipe, hoje município de Eirunepé. A cidadezinha era pequena, pacata, acolhedora, com aproximadamente 300 habitantes. As ruas eram de chão batido, por onde passavam as pessoas e carros-de-bois.
          Tinha apenas uma escolinha mantida pelo padre situada em frente a atual prefeitura, um posto de saúde com uma quase enfermeira, a delegacia com 8 guardas municipais, uma igrejinha coberta de palha, um pequeno comércio onde comprávamos o básico e uma padaria.
          Meu pai faleceu quando eu tinha 20 anos. Minha mãe ainda conheceu meus filhos, pois casei com 25 anos, quanto aos meus irmãos, uns faleceram outros ainda vivem. Mesmo com a infância pontilhada de obrigações, necessidades, alegrias e tristezas, me considero um vencedor.
          Hoje com 89 anos, no acaso da vida, percebo o quanto tudo mudou. As ruas asfaltadas, um "Hospital Regional" construído onde outrora colocávamos armadilhas para pocos e tatus, vários postos de saúde, a imponente igreja Matriz, em cujo local existia a igrejinha coberta de palha, muitas escolas com tecnologia de ponta, e até uma Universidade.
          Preso a essas lembranças, me debruço na janela, com o olhar perdido no vazio e fico pensando: se tivesse que escolher entre o conforto da cidade à vida na floresta, certamente ficaria com a segunda opção; pois o progresso mudou o costume dos nossos filhos. Ao invés de dormirem cedo saem para as ciladas da noite.
          Em meio a esses devaneios, sou obrigado a enxugar duas lágrimas quentes que molham meu rosto enrugado. Elas se chamam tristeza e saudade!


         


          

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